Todas as vidas importam

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João Freitas, 40 anos, negro, foi assassinado no Carrefour, Porto Alegre, por dois seguranças. O caso também ganhou grande repercussão, inclusive internacional, porque ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra. A ironia é que o Carrefour planejara lançar campanha manifestando o “orgulho de ter clientes de todas as raças e etnias”.

É impossível não associar as imagens da ação dos seguranças do Carrefour contra João Freitas àquelas que registraram o assassinato de George Floyd, em maio último, nos Estados Unidos. Em ambos os casos, as vítimas são homens negros, e a maneira como os acontecimentos se desenrolaram até suas mortes aponta à naturalização da violência contra negros.

O racismo precisa ser entendido como problema de todos, e ele existe pela ignorância. Segundo Mourão, no Brasil, não há racismo: é a mais racista das frases. O racismo é a raiz da violência mais disseminada no tempo e no planeta. Não se pode considerar humanamente normal e legalmente adequado aos negros. O racismo é real e massacrante.

O presidente da Fundação Palmares, Camargo, negro que nega o racismo, diz que a escravidão foi boa e acusa os movimentos negros de escória maldita. Ele pregou o fim do Dia da Consciência Negra porque “não existe racismo estrutural no país”. Esta frase, partindo de brancos, já é inadmissível; de um negro, imoral. Mais de um século após a abolição, a primeira vereadora negra eleita em Joinville, Santa Catarina, recebeu ameaças de morte e o bandido disse que, com a morte dela, seu vice, que é branco, assumiria.

Como o vice-presidente pôde afirmar que não existe racismo no Brasil? Existe sim e está na pauta do país, provavelmente, por muito anos ainda. A morte de João Freitas é um “dia de indignação”. Há a necessidade de lutar contra o racismo estrutural que corrói a sociedade. Aceitar a lei da selva dilacera a sociedade e é um atestado do fracasso civilizatório. O racismo tem um papel fundamental, pois a cor identifica as pessoas sem direito.

Bolsonaro usou a mais recente Cúpula do BRICS para afirmar que não existe racismo no Brasil e que forças opositoras querem importar isso de outros países para bagunçar o seu governo. Ele se utilizou das mesmas palavras de Mourão que, racismo existe sim nos EUA; no Brasil, não. Essa fala deixou horrorizada toda a cúpula dos BRICS. Negar o racismo no Brasil é inadmissível.

Há dias, na mesma reunião, atacou os países europeus que criticam a política ambiental do governo. A manifestação de Bolsonaro, em lugar de aplacar críticas, prejudica ainda mais o Brasil. Expõe a precariedade da fiscalização e da aplicação da lei sobre a extração de madeira, acentuada durante seu governo. Após dizer que revelaria nomes de países que atuam como receptadores de madeira ilegal que sai do Brasil, Bolsonaro, como sempre faz, recuou de suas declarações realizadas no dia anterior: gestos mortais à política externa brasileira.

Na reunião do G20, o secretário-geral da ONU, Guterres, defendeu que novos esforços sejam direcionados para atender às necessidades dos países em desenvolvimento como forma de mitigar os efeitos do covid-19: o mundo em desenvolvimento está à beira da ruína financeira e da crescente pobreza, fome e sofrimento indizível. Essa é a realidade!

Quando os governantes negam o óbvio, fazem denúncias falsas, e não demonstram a mínima piedade pelo assassinato de um cidadão brasileiro a sangue frio, não se manifestam sobre as 170 mil pessoas mortas pelo covid-19, causam pavor profundo, não têm capacidade para dirigir o país. Agressividade e violência: um dos seguranças assassino do Carrefour é policial militar – o que pode levar a população desacreditar da força.