No limite

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O chamado para uma passeata em 15 de março, via WhatsApp por Bolsonaro e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, faz a presidência trilhar caminhos perigosos. O presidente da República não é um cidadão comum e não pode permitir que seu nome seja usado para alimentar protestos contra os demais Poderes constituídos. A convocação à manifestação deixou claro que o presidente ajudou a disseminar a mensagem, o que equivale a chancelá-la, configurando óbvio abuso de poder, pois incita ilegítima pressão popular sobre o Legislativo.

O presidente da República, em razão de sua proeminência política, tem enorme poder de influenciar os rumos do país. Parece procurar construir um regime populista de inspiração militar, bem do gosto dos saudosos da ditadura. O general aposentado Augusto Heleno acusou o Congresso de chantagem e aconselhou Bolsonaro a chamar o povo às ruas contra isso. Essa posição pode ter graves consequências porque, ao repassar o vídeo da convocação de manifestações, sugere que apoia ataques a outros Poderes da República.

Quando um presidente passa o mandato fomentando conflitos com outras instituições governamentais, demonstra que quer expandir seus poderes e prejudicar a democracia brasileira. A divisão dos Poderes existe para permitir que abusos cometidos sejam corrigidos. Manifestações propostas para 15 de março supõem que a força da presidência se sobrepõe ao poder do Parlamento eleito e chega-se ao terreno do autoritarismo. Bolsonaro faz o que sabe: ataca a imprensa, acusando-a de difundir como atual uma mensagem sua de 2015, mas o vídeo inclui citação à facada que levou em 2018.

Tudo o que o presidente fala e faz é uma comunicação do presidente da República e não se pode aceitar um presidente diante de um movimento destrutivo da democracia: é desconstruir Brasil. A convocação ao protesto parece uma investida golpista contra instituições democráticas com intenções em desacreditar o Estado e pavimentar um caminho ao estado de ditadura.

Há poucos dias se viu sair de cena o caso do miliciano Adriano da Nóbrega. A possível investigação e a apreensão dos 13 celulares do fugitivo levaram Bolsonaro a mostrar-se mais do que apreensivo, temeroso mesmo por riscos implícitos no assassinato emudecedor do miliciano e ex-capitão Adriano da Nóbrega.

Não é aceitável o presidente quebrar o decoro, fazer apologia a torturadores e milicianos, chamar a população para atacar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, agredir a imprensa e não aceitar ser contrariado ou questionado!