Trump apresentou um reality show na NBC, EUA, intitulado The Apprentice. O programa mostrava 18 executivos competindo por uma posição em uma das empresas do apresentador e produtor do programa, Donald Trump. Ao final, manifestava-se: “Você está demitido!” No último sábado, o mundo foi informado do resultado das eleições dos EUA, em que Joe Binden foi eleito o 46º presidente dos Estados Unidos. Donald Trump foi demitido’.
O populismo de direita que ganhou força após a crise financeira de 2008 tem tudo para ser chamado de sintoma mórbido. A vitória de Trump em 2016 foi o marco decisivo da onda populista reacionária que já havia começado antes, em lugares como Hungria e Polônia, mas que chegou ao centro do capitalismo internacional com o Brexit.
Um aspecto da extrema direita no poder, do ponto de vista ideológico, é o desprezo pela ciência e as grandes conquistas da civilização são relegadas a mero instrumento de luta política, desaparecendo a preocupação com o bem coletivo. Por exemplo, o Brasil tem mais de 163 mil mortos pelo covid-19, e o debate do governo é em torno do combate contra a vacina. A ideologia da direita não se caracteriza apenas por seus traços autoritários, mas também pela arbitrariedade.
Não foram apenas valores da democracia que Trump procurou erodir ao longo de seu mandato: ele instalou uma agenda claramente autoritária e também sabotou a moralidade e a própria decência, fomentando a polarização entre os norte-americanos, misturando seus interesses pessoais com a administração pública. As notícias falsas, a política difícil das redes sociais, tudo isso ainda continuará existindo.
Ao eleger Trump, os EUA escolheram o mais corriqueiro herói de todas as épocas: o homem branco que percorre uma estrada de sucesso, sobe na vida, torna-se mais do que aquilo a que estava predestinado e encerra sua trajetória no merecido trono. Trump foi eleito com e pelo seu machismo, xenofobia e racismo. É mentiroso compulsivo que não tem o menor respeito por minorias nem instituições, incluindo a própria democracia. Trump foi uma força que perturbou os assuntos internacionais, desprezando alianças e multilateralismo.
O impressionante é que, apesar de tudo, Trump teve mais de 70 milhões de votos e seus eleitores apresentaram as seguintes características: 52% de homens, entre 45 e 70 anos, raça branca, com ensino médio, com faixa salarial de US$ 6.000,00 por mês, morador da área rural, protestantes e mórmons que achavam que a pandemia estava sob controle e que aprovavam tudo o que Trump fazia. Então, sua base política é de homens brancos, conservadores, pouco escolarizados, religiosos e nacionalistas. Ao observar isso, é desmentir o caráter exemplar da democracia americana.
Vive-se em um mundo aberto, globalizado, em que todos estão conectados, mas ninguém está no controle. A desigualdade continua alta. A desindustrialização de áreas inteiras do mundo desenvolvido continuará difícil de reverter. Se as causas da crise democrática, como desigualdade, corrupção, violência, tribalismo, racismo, etc. continuarem a ser ignoradas e confundidas com as lideranças populistas, as coisas só mudarão quando houver instituições políticas transparentes, sindicáveis e baixos níveis de corrupção e desigualdade.
O que interessa é que a maioria dos norte-americanos decidiu impedir pelo voto que Donald Trump completasse sua obra – a destruição da democracia nos Estados Unidos. Resolveu entregar o posto a um político tradicional e experiente a tarefa de liderar os EUA nesta hora de profunda crise. Sinceramente, é de torcer que os brasileiros também façam isso!