A entrevista com o General da Reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, publicada no Jornal Valor Econômico, em 26 de junho de 2020, seção EU&FimSemana, Santa Cruz, inicia assim a reportagem: um líder político inconsequente acarreta danos enormes a seu país. Depois acrescenta: Bolsonaro se ampara em um pequeno grupo ideológico de fanáticos, bandidinhos vagabundos com acesso a seu gabinete. Ele perde o foco sobre os reais problemas do país. Medíocres, escória! Acham que podem manipular a opinião pública, enchem a paciência da população. Não vai colar, a população não tem essa motivação ideológica e vai responder nas urnas.
Quanto à pandemia causada pelo Covid-19, relata que desencontros de orientações dentro do próprio governo agravaram os efeitos da pandemia no Brasil, e afirma: Ideologizaram o vírus, puseram uma coloração vermelha que seria da China, ideologizaram até um medicamento. Extremismos, para ele, atrapalham o país: não levam a lugar nenhum. Quanto aos apelos da volta da ditadura, Santos Cruz diz: falta recuperar credibilidade, liderança, dar bom exemplo, não adianta só reclamar! Fala que os frequentes movimentos de Bolsonaro em direção aos quartéis e os apelos de participação das Forças Armadas lhe despertam estranheza: Para quê? Santos Cruz lembra que as Forças Armadas pertencem ao Estado, e não ao governo.
Quanto ao foco social, lamenta que o governo não esteja mais empenhado em agir nessa área e afirma: Governo só faz sentido se tem foco no social. Classe média, como nós, não precisa de governo. Relata também que não faz sentido, para ele, toda estrutura de funcionalismo, tribunais de contas, fiscais da Fazenda, se o foco não for o social, para melhorar a vida dos mais carentes. O General da Reserva é taxativo ao comparar regiões com o Brasil: desigualdade aqui não tem comparação com a de qualquer país que conheceu e reforça. Se uma pessoa se afastar 15km de qualquer capital brasileira, vai conhecer situações horripilantes, de fome, violência e abandono.”
Para complicar as escolhas de Bolsonaro, o indicado ao cargo de Ministro da Educação Carlos Decotelli não possui o título de doutor em Administração que dizia ter. O reitor da Universidade Nacional de Rosário, Franco Bartolacci, declarou que Carlos Decotelli cursou apenas os créditos do doutorado, e foi reprovado na apresentação da tese. Aliás, estava tão inconsistente que sequer foi à banca. O ministro mentiu dizendo que era doutor. Para piorar posição dele, o doutor em Economia Thomas Conti submeteu a dissertação de mestrado de Decotelli, cursado na FGV, em um software conhecido como plagium, e encontrou muitos parágrafos plagiados de três dissertações de outras pessoas, assim como partes copiadas de um relatório do Banrisul enviado à CVM. O pior é que o ministro afirmou ser pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, Alemanha, logo, sem doutorado, não pode ter pós-doutorado – a universidade alemã, em resposta a UOL, desmentiu o suposto título.
Quando Santos Cruz diz que um “governo só faz sentido se tem o foco no social”, a agenda pública deveria estar preocupada com redução da desigualdade, crescimento econômico, educação, saúde e segurança. O Estado deve garantir igualdade de oportunidade e promover o bem comum. A divergência política é algo legítimo, e os defensores deste governo dizem que, quem diverge deles é corrupto, comunista, em processo de deslegitimação do adversário. É inaceitável governantes incapazes de liderar seus países em tempos que se pede políticos de qualidade superior, e não mediocridades orgulhosas de sua ignorância, com falta de empatia, sofrimento humano e insensibilidade à injustiça social. Ainda há quem realiza manifestações antidemocráticas num momento em que se pensava que o fato parecia estar superado. A ditadura voltou a assombrar o país. A reação contra a ditadura é sinal de saúde mental e não de distúrbio.