No regime democrático, o povo não é livre apenas no dia das eleições, pois pode manifestar-se e exigir mudanças políticas públicas a qualquer momento. Nos regimes totalitários, cometem-se as piores ignomínias, como na CPI da saúde que se relataram gravíssimas suspeitas, muito nebulosas, em torno da compra da vacina indiana Covaxin. Na semana anterior, a CPI da Covid já acumulara evidências da negligência do Ministério da Saúde na oferta de vacinas. As denúncias partiram do Deputado Federal Luis Miranda e do seu irmão, funcionário efetivo do Ministério da Saúde, Luiz Ricardo, ambos, até então, bolsonaristas.
Bolsonaro foi avisado das suspeitas sobre acertos esdrúxulos da vacina Covaxin pelos irmãos Miranda. Disse ao Deputado Luis Miranda: “Se eu mexer nisso aí, você já viu a merda que vai dar, né?!”. À CPI o deputado afirmou que Bolsonaro apontou o Deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, como provável operador do negócio. O deputado Miranda foi ao Palácio da Alvorada e Bolsonaro prometeu-lhe entregar o caso à Polícia Federal, fato que não ocorreu. O valor de R$ 1,3 bilhões já estava empenhado: autorizado, rubrica reservada e pronta para o pagamento, que parte seria destinada a um paraíso fiscal.
O governo assinou a toque de caixa contrato de R$ 1,6 bilhões à compra da vacina indiana Covaxin, sem atender a um conjunto de 10 recomendações da consultoria jurídica do Ministério da Saúde. Ocorre crime quando o agente público não toma decisões e medidas corretas em defesa do bem público. Bolsonaro pode responder por prevaricação e, ainda por cima, trincou seu discurso furado de anticorrupção que ostenta. Falando nisso, a compra da Covaxin foi intermediada pela empresa Precisa Medicamentos, que receberia R$ 500 milhões pelo negócio. A Precisa está envolvida em outro escândalo sob acusação de fraude na venda de testes rápidos à Covid-19.
Em janeiro de 2021, Bolsonaro enviou uma carta ao primeiro ministro indiano para informar que a vacina Covaxin já fora escolhida ao programa de imunização brasileiro. O acordo com a Covaxin foi assinado quatro meses antes do aval parcial dado pela Anvisa. Ainda por cima, documentos do Ministério de Relações Exteriores mostram que o governo comprou a vacina indiana por 1.000% maior que há seis meses.
Fato bom foi a saída do ministro de desmatamento, fogaréus e porteira aberta Ricardo Salles, que cumpriu agenda contra o ambiente liderando o maior desmonte de proteção ambiental e colocando-se sempre a favor de exportadores ilegais de madeira. Bolsonaro tem diante si duas denúncias graves: envolvendo Salles com madeireiros e exportações ilegais além de apurações por enriquecimento ilícito; e verificar a responsabilidade sobre pessoas bem relacionadas ao governo lucrando com a compra da Covaxin.
É inteligente evitar a continuidade do quadro atual – destruição da saúde, da educação e das florestas, e desalento completo de jovens sem emprego. Apesar do sofrimento humano e da devastação ambiental, a ascensão de Bolsonaro é também um período de aprendizagem. Covaxin? Mais um escândalo nessa situação de negacionismo, despreparo e horror à democracia como ameaça pelo desgoverno. Não se pode permitir que amadores cuidem da saúde pública brasileira.