Toque de recolher

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O Secretário da Educação de Rondônia, Suamy Lacerda de Abreu, escolheu 43 títulos de livros que julgou inadequado e mandou retirar de circulação das escolas públicas. Existem obras importantes como “Os Sertões” de Euclides da Cunha; “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis; “A Vida Como Ela É”, de Nelson Rodrigues; “O Seminarista”, de Carlos Heitor Cony; “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues; “Macunaíma”, de Mário de Andrade e todos os livros de Rubens Fonseca. O governador de Rondônia é o Coronel Marcos Rocha do PSL, amigo de Bolsonaro.

Como um burocrata instalado em um gabinete tem condições de taxar conteúdos inadequados às crianças e aos adolescentes? Sem formação adequada, como querem decidir a quais obras podem ter acesso? Esse grupo chegou ao poder recentemente e insiste em promover uma cruzada para ‘livrar’ a juventude de uma imaginada influência de autores ‘perigosos’: enquanto deveriam incentivar e resgatar o hábito prazeroso da leitura, gastam tempo com batidas para confiscar livros de autores consagrados.

Dentre as obras “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, relata a infância de Brás Cubas e comenta sua relação com seu escravo, o negrinho Prudêncio. Pertencente à classe alta, Brás Cubas esboça sua relação com o garoto desde suas brincadeiras e caprichos. Nessa relação, percebe-se a superioridade de Brás que montava no negrinho. Outro livro, “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, relata a guerra de canudos no norte da Bahia cujo governo massacra o povo de Canudos. É isso que querem esconder?

O secretário de Educação confessou que a ideia era fazer tudo às escondidas. A tentativa de censura é produto da obtusa de políticas públicas de ensino que estabelecem culpa aos comunistas e à depreciação dos bons costumes como problemas da educação brasileira, insinuando que estudantes têm desempenho ruim por causa de depravação e contaminação de esquerdistas. Os eleitos em 2018 trabalham a favor da agenda baseada no arbítrio e moralismo barato.

A decisão de recolhimento de 43 títulos das bibliotecas escolares de Rondônia não pode ser vista como um mero deslize burocrático, e o recuo da ação não faz desaparecer o grave acontecimento. Há pessoas no governo que estimulam preconceito, ignorância e desmantelamento de universidades federais e apostam no controle ideológico da cultura e do material didático, parecendo sinal de incompetência administrativa e demonstração de descumprimento da Constituição de 1988.

Para piorar esse novo mundo bizarro, Paulo Guedes, em palestra em 7 de fevereiro, na FGV, Rio de Janeiro, comparou servidores públicos a parasitas. O presidente do Sindicato dos Servidores da Câmara, Senado e Tribunal de Contas da União rebateu que parasita é o sistema financeiro protegido pelo ministro da Economia que escraviza o povo brasileiro em benefício de meia dúzia de banqueiros.

Para onde o Brasil está indo? O que aconteceu com o povo brasileiro que aceita calado a destruição de tudo que se havia conquistado desde 1985? O preço dos combustíveis está na estratosfera, assim como o dólar e o desemprego. A produção industrial cai a cada mês, o salário está bem menor para quase todos, a população de rua é assustadora. Há pessoas famintas, sem trabalho, e perspectivas; os mais abastados, cada vez mais ricos. A Educação está em declínio, assim como a saúde e a segurança. É uma vergonha quando se vê o país calado diante de tanta incompetência e maldade!