Circula recentemente um texto sobre “não tenha filhos, se não tiver tempo”. Pensei cá com meus botões, é difícil falar de tempo em sobra num país onde a precarização do mundo do trabalho se alarga a cada dia. Tempo não tem sido privilégio nem dos sem filho mas assalariados, mesmo eu compartilhando da ideia de que se você ainda tem outras tantas prioridades, não tenha filhos, e quando digo essas prioridades são as pequenas escolhas “fúteis”.
Mas algo que me incomoda profundamente: crianças não são prioridades. Nem politicamente, nem socialmente, e infelizmente, e em alguns casos, nem dentro das suas próprias famílias. Socialmente falando, o Brasil é um país exclui crianças da vida em sociedade. Um país polarizado até nesse sentido, de um lado crianças, do outro, adultos. Dois universos que a gente só consegue perceber quando vai as cidades grandes e aos shopping center, e vemos as pessoas sem filhos priorizando outras coisas, nos damos conta que crianças existem. A maternidade e a paternidade não precisaria ser tão solitária se a sociedade não excluísse crianças de seus restaurantes, bares e das milhares de praças que nem sequer existem no nosso país. Sim, exatamente isso que disse, se o estabelecimento pensasse mais nas crianças.
O Brasil não é pensado para crianças, o número de creches públicas que temos chega a ser ridículo. Crianças são tratadas como animais domésticos, fechadas dentro do próprio lar com suas telas para não incomodar os demais, não sejamos hipócritas, quantas vezes você entrega o celular a criança quando vai a um restaurante?
Mães, principalmente, precisam se desculpar quando suas crianças agem como crianças porque nossa sociedade não as tolera. Acho extremamente injusto que mulheres (principalmente!) precisem escolher entre ter uma vida social ou viver a maternidade, simplesmente porque a opção de ” ter uma vida social com filhos, porque crianças também são seres sociais”, ainda está em uma evolução muito lenta.
Isso sem contar da quantidade de críticas que mulheres recebem se pensarem em tentar sair com as amigas sem a companhia dos filhos. Nossa sociedade patriarcal deixa claro: lugar de crianças é dentro da esfera doméstica acompanhadas das suas respectivas mães. É proposital.
Isso também é um assunto político e de gênero. Quando excluímos crianças da vida social, excluímos também mulheres, sim mulheres! Pois as crianças tende a ser atendidas pelas mães, pelo fato de estar inserido em nossa sociedade o machismo de que o “homem não faz serviço doméstico”. Mães e Pais, assumam socialmente suas crias como ato político, joguem na cara da sociedade que crianças existem, o Brasil precisa acolher crianças da forma correta, para ontem, queremos adultos pensantes e críticos, porém queremos calados na idade em que mais se desenvolve! Caráter é desenvolvido desde a infância. Crianças primeiro!