Bolsonaro esteve internado há uma semana propiciando show em interpretação e, em seguida, mostrou que nada de grave havia. Ele tira proveito da própria suposta desgraça porque deseja ser visto como mártir, está em campanha permanente, e precisa tirar a atenção dos escândalos do seu governo, que se empilham na CPI da Covid-19. Mas por outro lado, está atemorizando eleitores; todavia, não se sabe prever o tamanho desse efeito bola de neve na percepção desses eleitores.
Com três meses de CPI da Pandemia, apareceram escândalos envolvendo a negociação e a compra de vacinas contra a covid-19. A população já entendeu que a realidade é bem diferente àquela defendida pelo presidente. Recentemente, em Porto Alegre, participou da motociata em defesa à reeleição. Sabe-se que sua campanha para 2022 não pode ser paga com recursos da Presidência da República, e sim do seu partido, quando achar um. O problema é que a CPI ocupará ainda grande parte do segundo semestre de 2021, mostrando graves erros e corrupções na condução da pandemia.
Não se pode subestimar Bolsonaro: há 27 anos como deputado do baixo clero, sem nenhuma expressão e há 31 meses após assumir a presidência, tem bunker: os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, o Procurador Geral da República e, infelizmente, grande parte do Exército Brasileiro e milicianos. Este grupo permite que Bolsonaro permaneça intocável, apesar dos problemas ocasionados na gestão do governo.
Crescem inflação indicando 8,3% nos últimos 12 meses, índice de desemprego, pobreza, crise hídrica, preço exorbitante dos combustíveis, gás de cozinha, energia elétrica, transporte, taxa Selic, aluguel e alimento. Há milhões de pessoas passando fome. A dívida pública interna beira colapso e a situação econômica e social é assustadora aos brasileiros – cuja grande parte da população ainda permanece calada.
Quem são essas pessoas que o apoiam cegamente? Aceitam ser incentivadas a odiar cada vez mais supostos inimigos; defendem-no; confiam naquele grupo; desconfiam de qualquer informação verídica que não venha dele; e creem em sua narrativa acima da sua racionalidade. Ou têm medo de algo que não se compreende? Bolsonaro promove intolerância e perseguição a quem pensa diferente.
Há dois anos e meio, o Brasil tem um governo controlado pelo partido militar, cuja direção é composta por um núcleo restrito de militares que controla, orienta e gerencia ações de Bolsonaro e suas narrativas sobre papéis políticos. As Forças Armadas pertencem ao povo e é preciso manter a disciplina intelectual consciente do cumprimento de leis e normas existentes. Saíram da caserna por que se mantêm com postura de subserviência e medo diante do setor do Estado que se imagina mais que realmente são, e se atribuem poderes que não possuem?
Será que o medo de seus apoiadores é acreditar que haverá ditadura e daí a vida ficaria mais fácil porque defende esse ponto de vista? Não há clima internacional para um golpe de Estado. Em vários momentos da história, governantes que foram irracionais e míopes tiveram fins trágicos. Bolsonaro aposta em confronto e acirramento de ânimos quando há denúncias ou decisões de outros poderes. Tais apoiadores devem crer que as Forças Armadas cumprem a missão que o povo lhes impôs na Constituição.