Riscos Cardiovasculares da Reposição de Testosterona: Uma Análise Crítica

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A reposição de testosterona, também conhecida como TRT (Terapia de Reposição de Testosterona), tem sido amplamente utilizada para tratar homens com hipogonadismo, uma condição em que os níveis de testosterona estão anormalmente baixos. Apesar de benefícios conhecidos, como a melhora da libido, aumento da massa muscular e da energia, os efeitos colaterais no coração e no sistema cardiovascular têm levantado preocupações significativas nos últimos anos.

O Debate Sobre o Risco Cardiovascular

O uso de testosterona tem sido associado a um risco aumentado de eventos cardiovasculares, especialmente em indivíduos com doenças cardíacas pré-existentes. Estudos observacionais e ensaios clínicos apresentaram resultados mistos, o que tornou difícil a definição clara do impacto da testosterona no coração. No entanto, evidências crescentes indicam que a TRT pode estar associada a riscos elevados em certos grupos de pacientes.

Entre os riscos mais significativos, destacam-se:

1. Infarto do Miocárdio (Ataque Cardíaco):* Alguns estudos sugerem que a reposição de testosterona pode aumentar o risco de infarto do miocárdio, especialmente em homens mais velhos ou naqueles com histórico de doenças cardíacas. Isso ocorre porque a testosterona pode estimular a produção de glóbulos vermelhos, aumentando a viscosidade do sangue e, potencialmente, levando à formação de coágulos. Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) indicou um aumento de 30% no risco de ataque cardíaco em homens com mais de 65 anos que iniciaram a TRT.

2. Acidente Vascular Cerebral (AVC): Assim como o infarto, o risco de AVC pode ser elevado pela TRT devido à maior tendência à formação de coágulos. O aumento dos níveis de hematócrito (concentração de glóbulos vermelhos no sangue) é um efeito comum da terapia, o que eleva a probabilidade de eventos trombóticos, como o AVC.

3. Insuficiência Cardíaca: Em homens com insuficiência cardíaca preexistente, o uso de testosterona pode agravar a condição. A retenção de líquidos, outro efeito possível da TRT, pode sobrecarregar o coração, especialmente em pacientes com função ventricular comprometida. Embora a testosterona tenha mostrado melhorar a capacidade de exercício em alguns pacientes com insuficiência cardíaca, é fundamental monitorar de perto para evitar descompensação cardíaca.

4. Dislipidemia e Hipertensão: A testosterona pode influenciar negativamente o perfil lipídico, aumentando os níveis de colesterol LDL (colesterol “ruim”) e reduzindo o HDL (colesterol “bom”), especialmente quando usada de forma crônica. Alterações nos níveis de lipídios podem acelerar o processo de aterosclerose (formação de placas nas artérias), o que, por sua vez, aumenta o risco de eventos cardiovasculares, como infarto e AVC. Além disso, há indícios de que a TRT pode causar elevação na pressão arterial, outro fator de risco importante para doenças cardíacas.

5. Arritmias Cardíacas: O impacto da testosterona no ritmo cardíaco ainda está sendo investigado, mas há relatos de que a TRT pode predispor a arritmias, especialmente em pacientes com histórico de doenças cardíacas. Aumento na massa muscular do coração, provocado pelo excesso de hormônio, pode alterar o sistema de condução elétrica do coração, resultando em batimentos irregulares.

Fatores de Risco e Monitoramento

Nem todos os pacientes estão igualmente vulneráveis aos efeitos adversos da testosterona no coração. Os riscos são especialmente altos em homens com:

– Histórico de doenças cardiovasculares (infarto, AVC, insuficiência cardíaca).
– Obesidade, diabetes ou hipertensão não controlada.

– Idade avançada (acima de 65 anos), onde as complicações cardiovasculares são mais comuns.

Pacientes que recebem TRT precisam de monitoramento contínuo para minimizar o risco de complicações. O acompanhamento deve incluir:

– Avaliação do hematócrito para evitar níveis perigosos de glóbulos vermelhos e risco de trombose.

– Monitoramento dos níveis de colesterol e ajustes na dieta ou medicação, se necessário, para manter o perfil lipídico saudável.

– Controle da pressão arterial e ajuste de medicamentos anti-hipertensivos conforme necessário.

A avaliação médica regular e o monitoramento constante são essenciais para mitigar os possíveis efeitos colaterais no coração, garantindo que os benefícios da terapia superem seus riscos.