Poder da sociedade

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A grande aposta é que a sociedade brasileira nunca se deixou aprisionar por muito tempo e logo ela volta a se impor aos demagogos. Percebe-se que, após a eleição de Bolsonaro, as classes dominantes obtiveram consenso passivo de amplos setores da população, tornando viável a violação em todos os sentidos. Com isso, todos o que se opõem ao pensamento bolsonarista são taxados de comunistas ou antipatriotas, e estes demonstram temeridade, assustam-se e não se posicionam permitindo a continuidade do processo autocrático.

Percebem-se pessoas desorientadas e inseguras, indicando queda brutal de expectativas e, enquanto isso, o Brasil está muito próximo de atingir 160 mil mortos pela covid-19. Milhões de brasileiros estão famintos, dezenas de milhares morando nas ruas, e o número de desempregados cresceu para 14% da população ativa. Pessoas perdem esperança à procura do emprego que não existe. Está na hora de mostrar o poder da sociedade de dar rumos aos caminhos econômicos e políticos.

A falta de compromisso com o crescimento econômico fez com que o Brasil ficasse à deriva. O país passou sim a ter metas de inflação, mas não teve metas de crescimento nem estratégias de crescimento. Como medição da situação, vejam: a renda per capita do brasileiro dobrou entre 1900 e 1940 e quintuplicou entre 1940 e 1980. Se essa tendência continuasse nos próximos 40 anos, a renda per capita seria de R$ 130 mil ao invés dos R$ 34 mil atuais.

Bolsonaro foi eleito porque prometeu revolucionar o Estado brasileiro e era evidente, para quem tivesse um mínimo de informação, que ele não tinha como fazer o que prometera, pois nos 28 anos como deputado do baixo clero, sempre defendeu exatamente o contrário. Agressão às minorias, culto às armas, negacionismo científico arrogantemente exposto em crises ambiental e sanitária caminham ao lado do ataque frontal à sociedade política. O negacionismo isola o país do mundo, comprometendo a inserção internacional e corroendo a credibilidade internacional do Brasil.

Quando Bolsonaro declara: ‘acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo’, uma semana depois, o Senador Chico Rodrigues, atuante como vice-líder do governo de Jair Bolsonaro no Senado, desde março de 2019, foi flagrado pela Polícia Federal na semana passada com R$ 33 mil na cueca. A ação foi autorizada pelo Ministro Barroso do STF. O dinheiro foi encontrado no cumprimento de mandado de busca e apreensão na casa do parlamentar durante operação para apurar esquema criminoso de desvios de recursos público (20 milhões) ao combate ao coronavírus em Roraima.

É ser muito ingênuo, mal informado ou insensato para acreditar que, alguém que não tivesse prestado algum serviço relevante ao país fosse, de fato, liderar um movimento pelo resgate ético do Brasil. Está na hora da população compreender o que esse governo está corroendo o Estado por dentro, desprotegendo o meio ambiente, promovendo somente os interesses econômicos de poderosos e deixando o Brasil à bancarrota. Educação, Saúde e empregos estão decadentes e comprometerão sobremaneira as próximas gerações.

Edmundo Pozes
Pós-Doutor em Administração
Docente Associado do IFSC