Peso Real

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Num encontro com empresários argentinos, em Buenos Aires, 6 de junho, Bolsonaro apresentou proposta para criar uma moeda única para o Brasil e a Argentina. No dia seguinte, em entrevista, disse que foi o primeiro passo para o sonho de unificar real e peso. Declarou que uma nova moeda é como um casamento: você ganha de um lado e perde de outro, e citou “às vezes, você quer assistir a um jogo do Botafogo e não consegue porque sua esposa quer ir ao shopping”. Justificou a ideia afirmando que essa moeda dará uma trava às aventuras socialistas que acontecem em alguns países da América do Sul. Bolsonaro parece encantado com a ideia.

Tal ideia não é de Bolsonaro e sim de Guedes que, em 2008, em artigo publicado à revista Época, defendeu a criação de uma moeda para a América latina chamada “peso real”. Receia-se a maneira em que Bolsonaro se deixa dominar pelas ideias de Guedes e fica ainda mais frágil quando diz que não entende nada de economia; quando questionado por qualquer questão econômica, manda falar com Guedes dizendo ser seu ‘Posto Ipiranga’. A fragilidade e a ‘pureza’ do presidente em defender uma ideia inaplicável sugerida em artigo há 11 anos por Paulo Guedes causa perplexidade. Quando ele disse que seu anúncio foi o primeiro passo para o sonho, só que esse sonho não é dele, e sim de Guedes.

Quem entende de economia sabe que para o surgimento de uma nova moeda exigiria a criação de instituições supranacionais para cuidar da harmonização de políticas fiscais, financeiras, cambiais, e leis comuns entre os dois países. Na criação do Euro, foram criadas leis para administrarem nos países membros limites à dívida pública, à inflação, ao déficit público, à taxa de câmbio e à taxa básica de juro. Acham que dois países quebrados podem construir o que levou décadas na Europa?

Para explicar a inviabilidade da proposta absurda de Guedes, um real custa para os argentinos 11 pesos que mostra uma discrepância numérica entre as duas moedas. Por outro lado, a inflação acumulada dos últimos 12 meses no Brasil está abaixo de 5%, enquanto na Argentina alcança 55%. Os argentinos têm baixo valor de reserva e grande dívida externa,71,7% em relação ao PIB e nós, brasileiros, temos 382 bilhões de dólares de reservas cambiais e uma dívida externa 16,9%, em relação ao PIB. Tem mais: o PIB do Brasil é 1,86 trilhão de dólares, enquanto a do vizinho é 0,5 trilhão. Um dólar vale 3,87 reais; o peso, 44,88.

Para criar a tal moeda, se fazem-se necessário três pilares básicos: estabilidade, credibilidade e previsibilidade; economias como a brasileira e a argentina estão longe disso. É engraçado que Bolsonaro praticamente abandonou o Mercosul e agora quer uma moeda única? Duvida-se se a fala de Bolsonaro é para dar apoio ao Maurício Macri, candidato à reeleição que enfrenta séria crise econômica e vai mal nas pesquisas eleitorais por implantar uma economia neoliberal ou simplesmente embarcou em mais uma furada de Paulo Guedes.

Guedes estudou na Universidade de Chicago, escola de pensamento econômico que defende o mercado livre. Suas ideias são associadas ao liberalismo econômico, monetarista e rejeição total à regulamentação dos negócios, em favor de um laissez-faire absoluto (privilégio aos mais fortes e mais ricos). As ideias obsessivas de Guedes são em fazer a reforma radical da Previdência Social, da privatização de praticamente
de todas as empresas públicas do Brasil. Agora vem com ideia irracional de juntar o real com uma moeda podre para acabar o Brasil de vez.
Ser patriota é entregar nosso país ao capital estrangeiro, desfazendo-se de todos os bens públicos que levamos décadas para construir à custa de impostos pagos por todos os brasileiros? Bolsonaro, com medo de aventuras socialistas vai atrás dos sonhos de Guedes. Destruir a legislação trabalhista (Temer) e mal alterar a previdência é o início do fim do nosso amado Brasil. Que Deus tenha piedade de nós!