O filme “Parasita”, vencedor do Oscar 2020, foca o tema que demonstra que há perdedores na sociedade igualitária, muito competitiva e sem Estado de bem-estar social. A obra é um manifesto em defesa do Estado de bem-estar social. Uma sociedade como a sul coreana possui elevada igualdade de oportunidades e prioriza excessivamente o crescimento econômico em detrimento ao bem-estar, mas com ampla igualdade de oportunidades, e lá, as pessoas são as únicas responsáveis por onde estão.
O Brasil não se encontra nessa posição: a Constituição de 1988 estabelece a construção da sociedade livre, justa e solidária, erradicando pobreza e reduzindo desigualdades. Em 2019, a taxa recorde de informalidade foi 41,1%, equivalente a 38,4 milhões de pessoas entre trabalhadores ocupados. A desigualdade no Brasil atinge 51,5% da população.
Desprezando os mais pobres do Brasil, Paulo Guedes, ministro da Economia, em palestra do Seminário de Abertura do Ano Legislativo de 2020, em Brasília, declarou que o câmbio alto (chegou a R$4,38/dólar) é bom para todos e que, por causa do dólar a R$1,80 no governo do PT, “empregadas domésticas estavam indo à Disneylândia numa festa danada”. Disse também, em outra ocasião, que “ricos capitalizam seus recursos e pobres consomem tudo”.
Guedes reflete uma visão impiedosa das políticas de proteção social. Defende a capitalização insinuando que o povo de baixa renda não poupa porque gasta tudo o que ganha. Bolsonaro, quando deputado, reclamou que o governo do PT criava uma nefasta política de bolsas e propôs a esterilização da população pobre.
Guedes também comparou servidores públicos a ‘parasitas’, na semana passada. Ele é exemplo notável de parasitismo, pois se sabe que sua riqueza veio de operar com fundos de pensão de servidores públicos. Parasita: essa atividade faz fortunas com servidores públicos que trabalham para ganhar esses recursos. O próprio ministro é acusado em diversos processos por perdas devidas à má aplicação de recursos a ele destinado.
Quando o ministro confessa sua repugnância à ida de empregadas domésticas à Disney, desnuda inimigos da redução de desigualdade social, econômica, educacional e étnica. Essa é a luta: ricos versus pobres, pois esses odeiam pobres. Enquanto pobres e funcionários públicos são vítimas da arrogância governamental, protegidos do governo – os bancos – têm lucro recorde: o lucro líquido combinado de Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander cresceu 18,4%, atingindo R$ 86,6 bilhões, o maior valor nominal da história.
Há uma luta de classes: o governo está ao lado dos mais ricos. As famosas reformas Trabalhista e Previdenciária só retiraram encargos do patrão e do governo. A aprovação da terceirização prejudicou a segurança do trabalhador. Estão prometidas ainda as reformas Administrativa e a Tributária, cujo Congresso está fazendo esse trabalho: governo envia ideia e deputados e senadores executam tarefa que deveria ser do Governo Federal. Este último passa a impressão de que tais reformas foram uma maneira de passar o tempo, porque governar é o que não se faz.