Em época de férias escolares, numa cidade turística de porte médio, um mendigo, deitado no chão, lamentava-se da má sorte. Alguns motoristas buzinaram xingando-o por estar deitado às 11h da manhã. Percebe-se o desprezo aos necessitados, cujas pessoas vangloriam-se da capacidade de armazenar bens e se esquecem que todos vivem em uma só sociedade.
O mundo passa por impressionantes mudanças tecnológicas que diziminam empregos e criam formas de atividade econômica e de trabalho. É necessário reconstruir um sistema educacional diante da grande explosão da quarta revolução industrial em andamento, e das tecnologias de informação, inteligência artificial e internet. Existe um sistema de saúde a remodelar, cujo aumento da expectativa de vida reduz a importância da luta contra doenças infecciosas e aumenta a luta contra doenças degenerativas. Vive-se uma era de grande desemprego, e conflitos na saúde, na educação e na segurança. Vive-se um tumulto político e econômico que se realimentam. A instabilidade agrava e prolonga perdas econômicas, pois não há plano de investimento de Estado que resista a tal desordem que, por sua vez, extrapola o conflito democrático.
No vilarejo do Cantão dos Grisões, Suíça, especificamente no Fórum Econômico Mundial, evento que ocorre em todo janeiro e reúne os maiores líderes de governos e da iniciativa privada do mundo, houve concordância de que a ordem liberal internacional está desmoronando em parte porque não satisfaz as pessoas das sociedades. É importante recompensar o trabalho e não a riqueza.
Defende-se de que o Brasil precisa de uma política mais socialista que assegure as pessoas que não têm capacidade de se auto manter possam ser reorientadas pelo Estado. Com a condenação de Lula, esse ‘olhar’ será simplesmente esquecido. O atual governo e possivelmente o próximo continuarão a filosofia do capitalismo selvagem. Deve-se escapar da reiteração passional do discurso de amor e de ódio ao Lula, razão de tantas divisões e de tanto atraso na formulação política do progressismo brasileiro. Pensantes com visão socialista almejam seguir uma doutrina que defenda uma sociedade livre de desigualdades e de bem-estar de todos.
No julgamento do TRF-4, Porto Alegre, os ministros chegaram com seus votos muito longos e semelhantes, por escrito e prontos. Então, pouco adiantou as ponderações da defesa porque os magistrados chegaram com suas decisões escritas. O direito de defesa é vital no regime democrático e o Poder Judiciário deve ser o guardião do regime democrático prescrito pela Constituição. No julgamento com Moro, não se observou a norma das democracias: a defesa não escolhe o juiz, mas ignorando tal norma, o juiz escolheu o réu. Que cada um se coloque no lugar de réu e defenda o padrão de justiça pelo qual gostaria de ser julgado.
Outro fato impactante foi a decisão de um juiz de suspender a posse da ministra do trabalho, por ter sido vencida em duas ações trabalhistas. Temer recebeu
indicação de um partido aliado e consolidou a indicação, decisão da esfera executiva federal suspensa por liminar de um juízo de primeira instância. Fica evidente o abuso de poder um juiz revogar um ato do presidente da República, em matéria de sua competência exclusiva, como é o caso da nomeação de ministros. Imaginem se centenas de juízes passassem a ter direito de intervir diretamente em atos privativos do Poder Executivo, o que levaria o Brasil à absoluta ingovernabilidade!
Governo fraco de Temer, fragilidades dos poderes executivo e legislativo arranhados por falcatruas realizadas há décadas e o crescimento assustador do Poder Judiciário levam o povo a pensar na sociedade como equilíbrio, cujos cidadãos possam viver em paz, com acesso à saúde, à educação, à segurança e ao emprego, oferecendo boas oportunidades também aos que vivem nas ruas.
Fonte:Edmundo Pozes da Silva