O Gal. Edson Pujol, atual Comandante do Exército Brasileiro, declarou recentemente: “Não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências em determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da nação. Elas são instituições de Estado, permanentes. Não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões.”. Palavras sensatas e equilibradas de um profissional de tamanha responsabilidade.
Já o ex-Comandante do Exército, Gal. Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, 69, exerceu o cargo de Comandante do Exército Brasileiro entre 5 de fevereiro de 2015 e 11 de janeiro de 2019. Infelizmente, ele sofre de esclerose lateral amiotrófica. No livro que publicou este ano, “General Villas Bôas: conversa com o Comandante”, reforça que a mensagem publicada em seu Twitter, uma clara ameaça aos Ministros do Supremo, foi apoiada pelos demais membros do Alto Comando do Exército. Villas Bôas, em entrevista à Folha de São Paulo, declarou que não foi ameaça, e sim alerta!
Após a publicação do livro, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin classificou como intolerável a tentativa, por parte dos militares, de pressionar a Corte antes de julgar, em 2018, um habeas corpus do ex-presidente Lula. O Gal. Villas Bôas respondeu: “Três anos depois?”, com sarcasmo. O Ministro do STF Gilmar Ferreira Mendes rebateu o general: “Ditadura nunca mais!”.
Pensava-se que as Forças Armadas Brasileiras haviam se profissionalizado, abandonando de vez a ingerência política, buscando o aprimoramento técnico. Mas o que se viu com o Gal. Villas Bôas foi um ato de insubordinação contra o ministro da Defesa e a presidência da República, seus chefes diretos. A hierarquia foi quebrada!
Depois disso, um deputado do baixo clero, Daniel Lucio da Silveira, publicou vídeo nas redes sociais em que ataca ministros do Supremo Tribunal Federal e, entre outras coisas, diz “já imaginou o Ministro Fachin levando uma surra, assim como todos os integrantes dessa corte aí?”. Esse deputado também disse “os 11 ministros do STF não servem para porra nenhuma para esse país”. Silveira ainda defendeu a aplicação do Ato Institucional AI5, o mais duro da ditadura militar. O deputado foi preso em flagrante por ordem do Ministro do STF Alexandre de Moraes, após acompanhado dos 11 votos dos ministros do STF. A Câmara dos Deputados abriu uma sessão para decidir sobre a continuidade da prisão ou não. O veredito foi 364 a favor de manter a prisão, 130 contra e três abstenções.
Jair Bolsonaro, quando entrevistado pelo Jô Soares, em 2007, disse claramente que só foi chamado ao programa porque criou um fato, que só foi chamado porque pediu o fuzilamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso porque queria vender a Vale do Rio Doce, entregar reservas do petróleo e privatizar telecomunicações. Daniel Silveira fez exatamente isso: um discurso incentivando a agressão a ministros do STF, demonstrando como a máquina golpista opera para gerar instabilidade e constranger as instituições. Parece que essa turma quer substituir o poder das leis pela força.
Quem está alimentando cidadãos que se julgam superiores com a liberação de armas e munições? Vive-se uma miopia coletiva. Essa gente usa a desinformação como arma política. Será que esses que se proclamam “cidadãos de bem” podem, em nome da sua suposta moral, ameaçar instituições e minorias, perseguir pessoas? O italiano Giuliano da Empoli publicou o livro “Os Engenheiros do Caos” onde explica como a extrema direita, em todo mundo, criou uma fórmula que mistura algoritmos e discursos de ódio para alimentar ressentimentos e medo das pessoas em meio a crises, com objetivos de corroer por dentro as democracias.