A obesidade é um problema de saúde pública que afeta o mundo inteiro. Alguns países apresentam esse problema de forma mais preocupante, como é o caso do Brasil. E como resolver essa questão? Basicamente, há duas estratégias, uma farmacológica e outra não farmacológica.
Entre as estratégias não farmacológicas, destacam-se a modificação no estilo de vida, com alteração da dieta, aumento nas atividades físicas e alterações comportamentais. Essa é a parte mais difícil, pois não é fácil mudar velhos hábitos.
Na linha da estratégia farmacológica, há diferentes substâncias que podem ser usadas. Uma das mais famosas é a sibutramina (princípio ativo do Reductil), substância que consegue controlar o apetite. Para se obter esse medicamento, é preciso consultar um médico, pois se exige receita controlada.
Outra substância é o orlistate (Xenical), que inibe uma enzima, a lipase, que atua sobre os lipídeos da dieta. Com a lipase inibida, não é possível absorver com eficácia a gordura dos alimentos, contribuindo para a redução do peso. No entanto, o uso de orlistate envolve uma série de reações adversas, sendo a mais preocupante a incontinência fecal. Ao menor movimento pode-se evacuar e isso é muito constrangedor, pois as fezes líquidas são perceptíveis, principalmente se a pessoa usar roupas claras.
No início da década de 2010, surgiu um medicamento que iria revolucionar o tratamento farmacológico da obesidade. Trata-se da liraglutida (Victoza), que, embora tenha sido desenvolvida para o manejo do diabetes melito, popularizou-se pelo seu uso off label, para redução do peso. Mudanças na molécula original permitiram a introdução de novos agentes no grupo da liraglutida, surgindo a semaglutida e a dulaglutida. A semaglutida (do Ozempic) viria a ser ainda mais popular que a liraglutida. O sucesso do Ozempic foi tão grande que interferiu positivamente no PIB (de 2023) do país da indústria que desenvolveu o produto, a Dinamarca. Com isso, a empresa Novo Nordisk se tornou a mais valiosa na Europa.
Embalada pelos resultados extremamente positivos nas vendas do Ozempic, a Novo Nordisk desenvolveu outro medicamento contendo a mesma substância (semaglutida), mas em uma formulação especificamente aprovada para o tratamento da obesidade. Surge, então, o Wegovy, com dosagem máxima de 2,4 mg, diferentemente do Ozempic, em que a dosagem máxima é de 1 mg.
Todos os fármacos desse grupo (liraglutida, semaglutida e dulaglutida) são análogos do GLP-1, uma substância que traz a sensação de saciedade e reduz o apetite. O GLP-1 pertence ao grupo das incretinas, assim como o GIP. Baseado nesse mecanismo de ação, porém com vistas a aperfeiçoá-lo, a indústria farmacêutica Eli Lilly desenvolveu a tirzepatida (Mounjaro), que, além de atuar sobre os receptores de GLP-1, também atua sobre os receptores de GIP. A esse mecanismo dual é atribuída a maior eficácia na perda de peso do Mounjaro, em comparação com o Ozempic.
Para tristeza de muitos, o Mounjaro ainda não chegou às prateleiras das farmácias do Brasil, embora já tenha sido aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há, ainda, outro problema: o custo, proibitivo para muitas pessoas.
Espera-se que com a popularização do Ozempic e com a introdução do Mounjaro haja alguma forma de introduzi-los no Sistema Único de Saúde (SUS), pois a obesidade é um problema de saúde pública que está em franca expansão.
Enfim, mesmo com esses medicamentos novos, em que a perda de peso é muito superior às obtidas com os medicamentos mais antigos, continua valendo como medida eficaz a modificação no estilo de vida. O problema é que muita gente é relutante em modificar algumas condutas. Mexer no prato de alguém é uma das tarefas mais difíceis de se fazer. E conseguir que uma pessoa incorpore uma rotina de exercícios físicos também não é tarefa fácil. Diante de todos esses fatores, o que se pode concluir é que a obesidade é um problema de difícil resolução.
Rodrigo Batista de Almeida
Professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR)