O Império contra-ataca

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Há três décadas, iniciou-se uma tentativa de estabelecer no Brasil um estado de bem-estar social nos moldes da Europa. Porém, reconhece-se que não houve cuidados com a economia brasileira, de baixa produtividade, e ainda não se sabe como financiar os gastos públicos. O Brasil fracassou porque os políticos são ardilosos e não sabem comandar o complexo sistema político-financeiro: desprezam a vida, afinal, há mais de 230 mil mortos pela pandemia, 15 milhões de desempregados, 14 milhões de famintos em estado de miséria. Cada vez mais se acentuam as desigualdades social e econômica, e se instiga à violência.
Falando em política, em 27 de outubro de 2018, Bolsonaro, durante a campanha, disse que o presidente que troca cargos por apoio no parlamento merece impeachment. Agora, faltando 22 meses para o fim do seu mandato, sentiu a necessidade da construção de uma base parlamentar no Congresso como um mal necessário, para blindar-se contra um possível impeachment e promover sua agenda eleitoral no parlamento. A eleição do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, candidatos de Bolsonaro, demonstra que o Legislativo prestou alinhamento ao presidente.
O custo desse alinhamento será muito alto ao bolsonarismo, porque nunca o Centrão teve tanto poder de barganha como agora. Desse modo, se os partidos do Centrão quiserem aumentar seu preço, quais serão as armas de dissuasão? Haverá muita tensão entre o autoritarismo de Bolsonaro com o fisiologismo do Centrão. O que definirá a política brasileira em 2021? O Centrão, grande vencedor da eleição no Congresso e fiador do governo só tem um interesse: o poder real.
A partilha de poder entre Executivo e Legislativo faz parte da cultura democrática brasileira. Nos dois primeiros anos de governo, recusou-se a montar coalizão com partidos do Congresso Nacional. Agora, na segunda parte do mandato, fez aliança com o Centrão. O bolsonarismo sempre expressou sentimento de aprofundamento antidemocrático, propondo fechar o STF, metralhar os “petralhas” e definir o Centrão como bando de ladrões. Parlamentares governam em regime presidencialista com execução orçamentária garantida sem responderem por seus gastos.
Apesar da trajetória parlamentar sofrível, Bolsonaro conquistou ampla base no Congresso, esvaziou poderes dos superministros, dominou Forças Armadas e ampliou sua força no Ministério Público e nas polícias. É inegável que se fortaleceu com as vitórias de seus candidatos nas eleições das presidências do Congresso. O custo dos cofres públicos gastos nessas eleições, segundo estimativas, foi R$ 3 bilhões. A direita pensava que tutelaria Bolsonaro, mas ele ganhou soberania e está dominando todas as forças dos poderes no Brasil.
O país está devastado pela crise sanitária (coronavírus) e sob ameaça de nova recessão, e não se vê nenhum projeto racional estruturado de governo e, mesmo que o Centrão o apoie, o desfecho ainda é preocupante, pois um Legislativo conjugado com o Executivo, cujo chefe tem vocação autoritária, demonstra imensa fragilidade e confusão. Mas, o resultado dessa articulação demonstra que o país está fadado ao poder do Centrão sob o bolsonarismo.
A grandiosa promessa de renovação da política desembocou nisso, mas sabe-se que em política não há resultados definitivos. Não se tem dúvida que nos livros de História entrarão como figuras irresponsáveis todos os líderes que desafiaram a ciência e não organizaram seus países no enfrentamento dos desafios trazidos pelo covid-19, sem amenizar desigualdades sociais, pobreza, desemprego, insegurança e fome, com descuido à educação e à saúde! Sabe-se lá para onde vamos!