Numa de nossas pequenas cidades catarinenses, tenho um amigo que queria tornar-se jogador de futebol. Assim, como a maior parte dos casos, sua jornada teve início num desses pequenos clubes do interior, primeiro em sua cidade e depois na cidade da sede de sua microrregião.
Algumas premissas, porém, tanto são para um time do interior como para o Flamengo ou Real Madri; uma delas nos dão conta de que a função do centro avante é fazer gol.
As agruras dos campeonatos do interior, porém, não costumam perdoar os ingênuos (aliás, na política, também, é assim). Nos campos do interior, esburacados e mal preparados, as chances de gol são escassas, e foi exatamente o que aconteceu na estreia de nosso amigo; a goleira parecia sempre muito distante.
Após um primeiro tempo apagado, onde mal tocou na bola, ouviu a primeira mijada do professor Roselei:
- Guri, não te escalei para fazer parede, quem faz parede é pedreiro, você tem é que chutar no gol.
As coisas iam de mal a pior; os donos da casa abriram o placar logo aos oito minutos depois da cobrança de um “korner”, momento em que a bola saltitou e pererecou na grande área, daqui e dali, até que alguém, a empurrou para dentro do gol: um a zero.
Assim foi o jogo, monótono, numa gritaria e chingamentos entre os jogadores e descontentamento geral da torcida do time de nosso centro avante. Aos trinta e sete minutos, o lateral esquerdo, numa belíssima jogada, depois de driblar três marcadores do time da casa, modelo Marcelo Cirino do Furacão, chutou em direção a área e a bola, caprichosamente passou na frente do gol, de lado a lado, sozinha, sem encontrar nosso centro avante, que preferiu se colocar na entrada da grande área.
Foi a gota d’água para nosso professor Roselei; instantaneamente preparou a substituição na “centroâvancia”; ao terminar o jogo foi aos berros em direção ao substituído: - Como é que você me deixa passar aquela bola na frente da goleira?
– Desculpa professor, eu não estava esperando.
O “negão”, professor, foi ficando cada vez mais irritado e por pouco não partiu para as vias de fato. - Você esperava o quê?…que um tatu saísse de baixo do gramado?…centroavante tem que esperar sempre.
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Lembremos que “não tem almoço de graça”.
Lembremos, também, que estamos sempre sujeitos a sermos traídos por nossas ambições e ingenuidades.
Temos exemplos de pessoas associadas que perderam seu trabalho de muitos anos aplicando seu dinheiro em promessas vans, enganadoras e ambiciosas e, depois nos procuram para saber de que forma pode agir para reaver seu dinheiro de volta; mas, como a bola que passou na frente da goleira e não encontrou o centroavante para empurrá-la para dentro, não tem mais recuperação.
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Fonte: Antonio Abilio Mantovani