Em agosto de 2020, contabilizam-se mais de 100 mil mortes pelo coronavírus e de 3 milhões de infectados em quatro meses de pandemia. Até onde vai chegar? Enquanto isso, Bolsonaro tem falado ao longo desse período que se trata de ‘gripezinha’, ‘resfriadinho’ e ‘histeria’, ‘não sou coveiro’, ‘todo mundo morre’ e que ‘não pode fazer nada’. Bolsonaro disse que menos de 800 pessoas morreriam por coronavírus no Brasil; já se foram mais de 100 mil vidas.
Por outro lado, o presidente negou o tempo todo a infectabilidade do Covid-19 e propôs o remédio cloroquina, tornando-se garoto propaganda e defensor dessa ideia: mandou o Exército Brasileiro produzir milhões de comprimidos e recebeu do seu ídolo, Donald Trump, outros milhões, quando o presidente americano percebeu que o medicamento é inóculo.
Quando se fala em mais de 100 mil mortes, não se pode pensar em números, mas em pessoas e sua repercussão em famílias, parentes, colegas de trabalho e conhecidos: milhões de pessoas são atingidas e outras que ainda serão. Enquanto isso, o presidente do Brasil faz chacota e pouco caso dessas mortes: minimizou a gravidade da doença, desrespeitou as recomendações de autoridades sanitárias e manteve o discurso negacionista diante da crise de saúde.
Ao responder a questões sobre o número alarmante de mortes, Bolsonaro dispara: “Ô, cara, eu não sou coveiro, tá certo?”; “E daí?” “Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”; “A gente lamenta todas as mortes, mas vamos tocar a vida!”. Assusta quando Bolsonaro é visto mostrando caixa de hidroxicloroquina às emas no Palácio do Alvorada! Sequer postou qualquer mensagem lamentando as mais de 100 mil mortes! É uma tragédia agravada pelo horror do negacionismo.
O Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, decretou luto oficial de três dias na Corte em homenagem aos 100 mil mortos pela Covid-19 no Brasil. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, classificou como “absurda” a marca de 100 mil mortos por coronavírus no Brasil: “Estamos convivendo diariamente com a pandemia, mas não podemos ficar anestesiados e tratar com naturalidade esses números.”. O Congresso Nacional decretou luto oficial de quatro dias após o país registrar 100 mil óbitos pela Covid-19.
Para entender as razões dessa frieza e distância, a literatura da Psicologia discorre sobre atitudes negligenciadas, cujas pessoas que sofrem de sociopatia apresentam comportamento agressivo e se irritam facilmente. Não sentem empatia pelo outro nem mesmo remorso de suas ações e conduta e tendem a ser muito autoconfiantes, arrogantes e teimosas. Se considerar a psicopatia, as características são ausência de emoções, tratar pessoas como objetos descartáveis; ter hábito de mentir e manipular; sentir prazer no sofrimento alheio; e ter ausência de culpa.
É uma somatória de fatores, todavia, principalmente liderada pela posição do governo, que trocou dois ministros médicos, substituindo-os por um militar, e sem técnicos na Saúde. A exemplo de Trump, Bolsonaro utilizou o negativismo para combater a pandemia. O pior é que incluiu o etarismo como forma de opressão e, para afastar da sociabilidade o grupo de risco, uma geração é vista como descartável. Justamente ‘esses velhos’ são a geração que impulsionou mudanças sociais e construiu a redemocratização do país que parecem mais necessárias.
O momento é de luto e reflexão: aceitar calados a destruição de milhares de vidas que afetam milhões de pessoas? Não! É hora de refletir sobre atitudes anticiência, passividade frente ao negacionismo, limitação de conhecimento e amor ao próximo, e vida em sociedade. Calar-se diante de um governo que se cala para o povo, que não resolve, enquanto a Amazônia e muitas áreas e bichos queimam. Mito é o povo brasileiro que chora por seus entes, por si e pelo Brasil.