Como foi minha cirurgia no coração
(Continuação)
Como eu ia dizendo semana passada, na sala de cirurgia eu ainda perguntei ao anestesista: – o senhor não vai me anestesiar? Ele respondeu: – ainda não. “Quando eu for te anestesiar, vou pedir para o senhor contar até três”. Era zuerinha, pois por mais que eu tente lembrar, não recordo do pedido de contagem. Naquele exato instante foi que apaguei. De repente acordei com uns barulhos estranhos. Era “bep” pra cá, “pi-pi” pra lá. Cheguei a pensar que algo havia dado errado e não tinham me operado, afinal, em minha cabeça eu nem havia sequer dormido. Quando me dei conta, um baita ferro em minha boca, um monte de fios e canos em meus braços e corpo e uma dor insuportável nas costas. Tentei me mexer mas sem sucesso. Escutei uma voz familiar e então vi um anjo ao meu lado. Seus cabelos dourados me traziam a segurança que eu precisava. Já era minha esposa conversando com a enfermeira. Entubado, praticamente amarrado em uma cama de UTI, lembro de pedir para ela olhar em meus olhos, acho que era tudo o que eu queria, era ver seu olhar doce, meigo e carinhoso. Ela me contou que horas eram e já era 14 horas. Ela passava um pano em meu rosto dizendo que eu suava muito. Parecia preocupada. Disse-me que estava tudo certo com o Charles e chegou a me contar alguma coisa sobre meus processos judiciais. Sem advogado na maioria deles, eu mesmo cuido dos requerimentos e ela sabia que eu me preocuparia se acontecesse alguma coisa errada nos ritos processuais. Dali a pouco chega uma enfermeira e taca-lhe mais uma dose de morfina em minha veia. Náuseas e mais suor.
Só mais tarde eu entendi que o suor e as náuseas eram tão e somente a reação à morfina. Meu coração aqueceu de vez quando ela me contou que já haviam mais de mil mensagens em meu whatsapp, todas vindas do povo de Palmas. Ela ainda disse que não sentia ciúmes porque sabia que esse amor entre eu e meu povo é explicado por Deus.
Vi olhar de preocupação nela quando disse: – fica bom logo, meu amor, que esse povo precisa muito de ti. Nisso entra na UTI o meu cirurgião e o médico residente que o acompanhou durante a cirurgia. Eles estavam sorrindo quase como um deboche e eu não entendia os motivos. Tantas cirurgias que já deveriam ter feito, que deveria ser natural eles ver mais um paciente entubado, mas retomando os sentidos. Quem caiu na gargalhada foi minha esposa, depois da pergunta que fiz aos médicos: – vocês estão rindo só porque me viram pelado, né? (continua na próxima edição)
Atenção: esta coluna é escrita e editada pelo jornalista Rodrigo Kohl Ribeiro MTB: 18.933, de sua inteira e irrestrita responsabilidade. Qualquer sugestão ou crítica, pode ser enviada para o e-mail joaopimentadepalmas@gmail.com ou pelo
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