A desigualdade na distribuição de renda no Brasil caiu de forma ininterrupta entre 2002 e 2015, mas voltou a aumentar a partir de 2016: a desigualdade aumentou, e muito. Após Bolsonaro anunciar que aumentará o teto de gastos para bancar o “auxílio eleição”, a projeção das taxas de juro ultrapassam 12% ao ano. A desmoralização do teto de gastos, dispositivo criado em 2016 para disciplinar a gestão orçamentária, mostra mais um improviso deste governo. Com essa atitude, o governo abandonou a missão de cuidar das finanças públicas.
Os planos de Bolsonaro em romper o teto dos gastos para financiar o pagamento do “auxílio eleição” têm provocado reação negativa do mercado e está contribuindo para aumentar ainda mais a impopularidade do governo. Ações na B3 estão despencando; dólar subindo, risco na classificação do Risco Brasil, aumentando o risco fiscal, pressionando taxa de câmbio, taxa de juro, taxa da inflação e aumento do desemprego. O principal pilar da economia recente brasileira era a obediência ao teto de gastos, a âncora fiscal do país. O que se está fazendo é pedalada fiscal.
A desconfiança do mercado tende a elevar o juro da dívida pública. O cenário econômico brasileiro ficará ainda pior e o dano causado à economia será profundo e duradouro. Em médio prazo, o Brasil ficará mais pobre e desorganizado e perderá a credibilidade: faltam planejamento e compromisso político. A perspectiva é o descontrole do endividamento; e todo gasto dependerá de dinheiro captado no mercado e, consequentemente, haverá alta de juro com impacto recessivo. Não se pode abrir mão de que o papel do governo deve ser um indutor do investimento privado para que o Brasil volte a crescer.
O mercado financeiro finalmente entendeu que Bolsonaro não consegue governar, e agora soma à vulnerabilidade de Paulo Guedes que acumula 16 perdas de auxiliares, considerando a recente debandada do núcleo fiscal do Ministério da Economia. O abandono do teto de gastos e da responsabilidade fiscal será muito estressante à economia brasileira em 2022. Bolsonaro é incapaz de entender o interesse público e só trabalha por vantagem própria, não constrói nada e destrói o que existe. Diante da irresponsabilidade fiscal do governo e da sua base de apoio no Congresso, a esperança é de que o Banco Central do Brasil exerça independência política e cumpra seu dever.
A regra que limita o crescimento das despesas foi violada e deixará de ser eficaz às mudanças negociadas pelo atual governo com o Congresso para gastar mais no ano eleitoral de 2022. Querem emenda constitucional que autorize o governo a dar calote em parte da sua dívida com precatórios judiciais e mudar o cálculo do teto, possibilitando outros gastos. Entende-se que Bolsonaro faz pedalada fiscal ao desrespeitar o teto de gastos. Guedes já explodiu a meta da inflação e adotou o estouro do teto de gastos.
Bolsonaro está acuado com as denúncias da CPI (uma delas, crime contra a humanidade) e pela perda da popularidade, por isso inventou esse “auxílio eleição”, cujo governo deixará de pagar dívidas que poderia ter negociado e criará dívida paralela para ser paga em 10 anos, tornando uma bola de neve. Tudo isso é uma manobra oportunista, e a inflação subirá: queda vertiginosa do real frente ao dólar e ao euro, aumento do preço de combustíveis e alimentos. Apoiadores do governo também não têm compaixão de desempregados, famintos e desesperados; também apoiam a pedalada fiscal de Guedes, dando as costas ao povo brasileiro!