Estado de violência

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O senador Cid Gomes foi baleado no Ceará pela própria Polícia Militar em frente ao quartel onde policiais faziam motim por reajuste salarial. O senador levou dois tiros no tórax mas já recebeu alta do hospital. O Vereador Sargento Aílton, fã e alinhado ao Bolsonaro, é o líder do motim da PM de Sobral. Os bolsonaristas e policiais grevistas têm afinidades em três dimensões: convergência ideológica conservadora; reivindicação da classe militarizada por melhores salários e condições e conjuntura eleitoral. Se policiais alavancam seus votos ao se associarem ao Bolsonaro, o fato de inflamar movimentos, enfraquece governadores de oposição, alvos da greve.

O Sargento Aílton admite que existe uma identificação com o bolsonarismo por formação militar, defesa da família e das armas e do combate à corrupção. É bom frisar que os movimentos cearenses por vantagens salariais da Polícia Militar que não disfarça seus métodos ilegais já arrancaram do governador do Estado reajuste salarial generoso e truculência que apresentam é somente para apressar a benesse. Abuso e intimidação violenta devem ser contidos antes de contaminarem todo o Brasil.

Há movimentos grevistas de policiais militares em todo o país, e os governadores vão concedendo aumentos sem que haja recursos orçamentários. Existe animosidade entre polícia e João Dória em São Paulo. Há ameaças de paralização em Alagoas, Paraíba, e Rio Grande do Sul. Enquanto Santa Catarina debate a previdência dos policiais, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul negociam reajustes e a Polícia Militar baiana aguarda novo plano de carreira. Em Minas Gerais, o Governador Romeu Zema propôs reajuste de 41,7% aos policiais. Movimentos por vantagens salariais que mal disfarçam seus métodos ilegais já conta mais de dois meses e não é um fenômeno isolado no país.

Governadores enxergaram de longe a fumaça da exploração política após o motim da Polícia Militar cearense, um estímulo a rebeldias em outros Estados. Bolsonaro sofreu punições na época que era tenente porque queria explodir tubulações do quartel do exército em protesto contra baixos soldos. Na política, fez carreira cobrando aumentos de salários para policiais e defendendo agentes públicos violentos. A baderna é estimulada por leis estaduais que anistiam posteriormente os infratores uniformizados.

A onda conservadora das eleições de 2018 espalhou oficiais, sargentos e cabos nos Poderes Legislativos e Executivos no país, além de colocar no posto mais alto um capitão reformado. Tal capitão indicou a Medalha de Tiradentes para condecorar Adriano da Nóbrega, chamando-o de herói da Polícia Militar do Rio de Janeiro. O Capitão Adriano foi expulso da PM Rio por atuar como segurança de bicheiro, estar envolvido com milícia, homicídios profissionais e máquinas caça-níqueis. Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, as contas do Capitão Adriano foram usadas para transferir dinheiro a Queiroz, suspeito de comandar o esquema de devolução de salários.

Recentemente, o país ficou chocado com insinuações do presidente ao ofender publicamente uma jornalista com grosseiras insinuações de caráter sexual. A confusão no governo é reflexo da incompreensão do papel da presidência. Não se deve subestimar a inteligência alheia. Então, instalou-se um Estado de Violência: milícias tomando conta de tudo e o glorioso exército está apoiando o presidente. Não há o que fazer: parece que a democracia desmoronou. Quando praticado por autoridades, o crime merece punição maior: o sequestro da lei ao benefício da elite política em desprezo à cidadania.