Dólar alto e moeda digital do governo
A combinação entre três riscos – condução da crise sanitária da pandemia da covid-19, crise fiscal e crise política – está por trás do patamar elevado do dólar no Brasil que não cede apesar da maré favorável ao fortalecimento do real frente à moeda norte-americana e, ainda por cima, com US$ 350 bilhões de reservas internacionais. O dólar caro pressiona custos, alimenta inflação e inferniza a vida de milhões de famílias, forçadas a pagar mais por muitos produtos. Em 2020, o país acumulou saldo positivo de US$ 51 bilhões no comércio internacional de mercadorias e serviços. Apesar disso, o real foi uma das moedas mais depreciadas em 2020. Observe a desvalorização do real desde o início do governo Bolsonaro (44,7%):
Incertezas sobre evolução das contas de governo, enorme dívida interna, erros do governo federal diante de pandemia e problemas de suprimento de vacinas, tensões políticas e insegurança fiscal aumentam novas trapalhadas fiscais. Passado abril, o Brasil continua sem orçamento executável; tropeços e impasses de um governo que ainda não deu rumo à política econômica. Incertezas sobre inflação, contas públicas, crescimento e o próprio câmbio misturam-se ao mau humor de investidores assustados com a política antiambiental do governo e com o intervencionismo nas estatais de capital aberto, como Petrobrás e Banco do Brasil.
Voltando ao dólar, somente o aumento da vacinação e a recuperação econômica podem dar algum alívio ao câmbio. Nitidamente, a economia brasileira está enfraquecendo e é a primeira vez que o real não se valoriza num cenário de commodities forte, alta do saldo da balança comercial e perspectivas de superávit nas contas externas.
Por outro lado, discute-se se a bitcoin e outras moedas digitais são o futuro do dinheiro tal como se conhece. Ameaçados pelas moedas virtuais, os bancos centrais de todo o mundo começaram a estudar como usar novas tecnologias e criar moedas digitais controladas pelo Estado. Nenhum país tem dinheiro virtual oficial. A emissão de moeda digital pelo governo é chamada de CBDC (Central Bank Digital Currency). China está em fase de testes com sua moeda e-yuan; Uruguai, com e-pesos. O Brasil prepara-se para lançar a moeda digital brasileira, provavelmente, e-real.
A alta adesão ao PIX é indício de que a moeda digital será bem aceita pela sociedade brasileira. A moeda digital emitida pela autoridade monetária seria apenas uma nova forma de representação do dinheiro já em circulação. A CBDC funcionaria como complemento ao PIX, distribuída pelo sistema financeiro como é feito com o dinheiro físico, só que por meio digital. Um dos objetivos do Banco Central é reduzir a demanda por papel-moeda para reduzir custos. O Brasil precisa ter esperança.