Na última semana, Moro pediupublicamente demissão do cargo de ministro da Justiça do governo bolsonarista. Na sexta-feira, 24 de abril, às 11h, convocou a coletiva com a imprensa nas instalações do Ministério da Justiça e declarou que estava se afastando porque Bolsonaro fez pedidos ilícitos quanto a processos que transcorriam na Justiça. Entretanto, o pivô da discordância foi, de fato, o presidente ter autorizado publicação no Diário Oficial da União, neste dia, a exoneração do delegado geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, que foi substituído por Alexandre Ramagem, ex-diretor geral da Abin.
Estranha-se o fato de Moro, somente após 16 meses no governo bolsonarista, ter denunciado o possível comportamento inadequado do presidente. Por que se calou até então? Estranho também é que, em manifestações a favor do governo, sempre havia bonecos infláveis gigantes do Superman com o rosto de Moro. A ele, foi criado a imagem do homem perfeito, ilibado, forte, justo, capaz de prender todos os fantasiosos inimigos do povo. No restaurante onde Moro almoçava, em Curitiba, as pessoas levantavam na sua chegada e o aplaudiam como herói. Essa foi a imagem que sempre quis passar à sociedade.
É estranho o fato do juiz federal há 22 anos abandonar sua gloriosa carreira para ser ministro da justiça temporário de Bolsonaro. Quando o presidente, na última sexta-feira, às 17h, em pronunciamento oficial, disse que Moro não gostaria de trocar Valeixo, mas que aceitaria a troca de comando da PF desde que Bolsonaro lhe confirmasse sua indicação de juiz do Supremo Tribunal Federal. O The Intercept Brasil já publicara trocas de WhatsApp entre Moro e procuradores federais de Curitiba declarando a tal promessa. Logo, estava muito claro que o convite de Bolsonaro a Moro ao ministério da Justiça foi para dar legitimidade a seu governo e, em troca, deixaria a brilhante carreira de juiz federal para ser ministro temporário com a condição de substituir o ministro do supremo Celso de Mello que se aposentará compulsoriamente em novembro de 2020. Assim, encontra-se a justificativa de jogar pela janela uma carreira como juiz federal, porque se sentia garantido que seria elevado a ministro do STF. Era essa a razão de Moro aceitar: combinação prévia que não gerou frutos prometidos.
Como Bolsonaro, um deputado do baixo clero, chegou à presidência da República? Com apoio da Rede Globo e do sentimento antipetista criado por Moro, que mandou prender Lula e, por muitas vezes, humilhando-o publicamente. Também colaborou com a queda da Dilma Rousseff, entregando gravações à TV Globo fatos que corriam em segredo de justiça no horário do Jornal Nacional. Agora, trama a queda do Bolsonaro. Ele é um herói? Herói somos nós, trabalhadores que estamos todos os dias nas empresas cumprindo horário e produzindo ao engrandecimento do país.
O PT cometeu erros e alguns gravíssimos, mas o processo de Lula foi, em parte, manipulado por Moro, forjando provas que foram contestadas pelo The Intercept Brasil que apresentou provas incontestáveis da manipulação de Moro apoiado por procuradores federais de Curitiba e apoiado pelo delegado federal Maurício Valeixo. Moro anulou sentenças no caso do Banestado, com desvios de mais de 500 bilhões. Poupou Temer, não mandou prender a irmã de Aécio Neves, absolveu a mulher de Cunha e a de Cabral. Mandou soltar Youssef duas vezes e diminuiu sua pena de 121 anos para 1 ano. Existem muitas outras coisas que pesam sobre Moro. Espera-se que tenha aprendido que sua exacerbada ambição acabou com sua carreira judicial federal e, pelo menos por enquanto, seu sonho de assumir como ministro no STF. Sua perversa ganância expôs suas verdadeiras entranhas. Manda a prudência e o bom senso não desejar mal a qualquer um, inclusive Moro.