Descuidos diplomáticos

0
30

A imprensa publicou, em 2016, que um juiz federal do interior do Paraná estava processando Lula. Surgiram vários processos e o réu fora condenado em todas as acusações presididas por Moro. Ao recorrer, o Tribunal Regional Federal de Porto Alegre não só confirmou as sentenças como aumentou os anos da pena. A sociedade assistia inerte aos rápidos julgamentos como se nunca vira antes. O implacável juiz Moro, ao entrar nos restaurantes em Curitiba, era aplaudido de pé. Onde ia, recebia o afago da população por ser reconhecido como paladino da justiça. Ergueram-se bonecos infláveis gigantes trajados de Superman.
Os advogados de defesa não ganhavam linhas nas ações! A situação demostrava à sociedade brasileira que a justiça é cega e ‘os grandes’ eram presos. E por que Lula foi condenado? Acusaram-no de ter ganhado da OAS um apartamento de cobertura, que teria sido reformado por Dona Marisa. Outro suposto crime seria ter recebido também um sítio em Atibaia, SP. O paladino Moro seguia implacável. Tornou-se herói no Brasil e foi agraciado por um filme onde seu personagem era um super herói que punia bandidos. Diga-se de passagem: o apartamenteco nunca foi reformado, e Moro jamais permitira acesso ao imóvel. O mais estranho é que as notas ficais comprobatórias dos materiais de construção eram de empresas de Curitiba, enquanto o apartamento se localiza em São Bernardo do Campo, SP.
Inicia-se, então, o pedido de prisão de outros políticos envolvidos em corrupção – porém, o foco do então juiz era somente Lula. Moro fora apoiado pelos desembargadores do TRF4, seus amigos de mestrado, que, leram o processo do apartamento em tempo recorde, passando à frente de milhares de processos acumulados. A Procuradoria da Justiça Federal de Curitiba, comandada pelo acusador Deltan Dallagnol. Moro gravou conversas de Lula com Dilma e entregou ao Jornal Nacional da Rede Globo. Lula, enfim, foi preso. Em histeria nacional, o povo estava às ruas para defender a nova moralidade e a justiça! Mas cadê os outros políticos desonestos que estão soltos até hoje?
Dilma sofreu processo de impeachment e foi destituída do cargo; o PT, grande golpe e, nas últimas eleições, não se reergueu. Surge então o Intercep Brasil, que gravou clandestinamente as conversar de Moro, Dallagnol e outros procuradores combinando estratégias e sentenças, algo totalmente ilegal na Justiça. Desmascara-se o falso herói. Com o afastamento de Lula das eleições presidenciais, grande parte do povo brasileiro apaixonado por atitudes mesquinhas, rudes e ilegais do então juiz, escolheu um deputado inexpressivo com discurso radical à presidência que, para compensar, convidou Moro para assumir o Ministério da Justiça.
Moro, erroneamente, vítima de extrema vaidade, larga o cargo de juiz federal e assume o ministério, cuja atuação é pífia. Após meses na ‘geladeira’ bolsonarista, pede demissão da pasta sem sequer ter exercido um gesto em favor aos brasileiros. Bolsonaro declarou, numa ocasião, que Moro forçara-lhe a indicação de ministro do Supremo, cargo vitalício e de poder absoluto. Eis o que Moro planejara: o STF. O presidente ‘descartou-o’ ao saber que a esposa de Moro iniciou uma campanha intitulada “Moro presidente 2022”, eliminando, assim, o concorrente.
Após a quarentena obrigatória, Moro aparece como sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal no Brasil. Tal consultoria auxiliou o Grupo Odebrecht na recuperação judicial da destruição financeira causada por Moro. Quando do julgamento de Lula, essa consultoria que também defendia a OAS, declarou que o apartamento era da OAS e não de Lula. O estranho é que a OAS entrou em recuperação judicial e contratou os serviços da Alvarez & Marsal. A OAB vê conflitos em atuação de Moro como advogado à A&M.
Deixa-se claro que Moro atuou com Deltan Dallagnol, demais procuradores da República de Curitiba e desembargadores do TFR4 como força para afastar Lula do pleito de 2018. Deu resultado, mas Moro largou a segura carreira de juiz federal para assumir o cargo (temporário) de ministro da Justiça como ‘trampolim’ ao STF: por incompetência, assume agora a iniciativa privada em ajuda àqueles que condenou.
Sem palavras às atitudes apequenadas e às injustiças cometidas, os bonecos infláveis murcharam. O mais lamentável é aos brasileiros ver maus exemplos como Moro, Witzel, Dallagnol e tantos outros que existe podridão em todas as esferas.