Na década de 1980, nossa indústria atingiu o pico de 34% de participação no PIB do Brasil; em 2020, apenas 11%. Só para entender: a indústria brasileira de 1980 a 2017 cresceu 24%; a Argentina, 69%; o resto do mundo, 204%. O atual governo não consegue ver além dos interesses particulares dos seus integrantes e não compreende a dimensão desses desafios. O Brasil precisa recuperar o dinamismo da indústria e iniciar o processo de reindustrialização. O governo não investe em pesquisa e na indústria.
A redução do tamanho da indústria no PIB ocorreu prematuramente se comparar a outros países: a renda gerada pela indústria caiu, assim como a produtividade. O processo de desindustrialização das nações desenvolvidas, como Inglaterra e França vivenciaram em 30 anos, enquanto o Brasil experimentou em meia década. Bolsonaro possui um viés ideológico forte anti-industrial, deixando claro que o Brasil não precisa inovar e desenvolver tecnologia, porque se pode comprá-la. Consequências da falta de investimento em inovação são forças destrutivas no parque industrial brasileiro.
Com falta de pesquisa e inovação, o país perde a capacidade de produzir com eficácia, os trabalhadores ficam defasados, e todo um processo desorientado, sendo um dos motivos fortes para se pensar na baixa produtividade brasileira. A sorte é que a indústria brasileira é muito diversificada, mas não é avançada e não é de ponta, com raras exceções. O problema é que não se vai conseguir fazer isso sozinho, assim como nenhuma indústria do mundo conseguiu; acredita-se que sempre há dinheiro público disponível à iniciativa privada investir para acompanhar a marcha acelerada das mudanças.
O aumento dos preços das commodities ajudou o Brasil a atingir superávit comercial, mas mascara déficit de 53 bilhões de dólares em bens manufaturados. Portanto, analisando fatores da crise na indústria brasileira, percebe-se que não é apenas resultado da crise econômica que atingiu o Brasil a partir de 2013, mas também a falta de tecnologia e produtividade e de problemas estruturais que prejudicam a competitividade, como o sistema tributário brasileiro e problemas graves de logística que também tornam a produção nacional de alto custo. Economias desenvolvidas estão retomando políticas industriais de grande porte e o Brasil não tem um plano estratégico de reindustrialização.
Alguns setores industriais, como indústria têxtil, estão praticamente desaparecendo com o advento de produtos importados a custos extremamente baixos, por isso é necessário um programa de reindustrialização urgente. Ou se acha que o Brasil deve ser apenas um produtor de matéria-prima? Se quer exportar commodities e importar bens industrializados? Assim, trabalhadores brasileiros ficarão presos a empregos precários, de baixa qualidade, tecnologia e renda. É preciso organizar um projeto de industrialização para essa década. Precisam-se modernização tecnológica de fábricas, capacitação profissional, novo sistema tributário, incluindo a revisão das leis trabalhistas e linhas de créditos com juro baixo e oferecer ensino moderno e prático.
O ‘mito’ não virá de cavalo branco com escudo e espada para salvá-los: ele tem interesse próprios que se estendem aos filhos! O Brasil precisa acordar e lutar por ensino de qualidade e indústrias que gerem empregos com tecnologia, pagando muito bons salários, projetar-se no exterior e voltar à posição 6ª economia mundial, como em 2011. Este é o caminho!