Análise preditiva

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Bolsonaro defendeu, logo após a aprovação da reforma da Previdência, novas regras para a aposentadoria dos militares que embutiram recomposição generalizada de salários, asseguradas a integralidade e paridade dos salários entre os membros da ativa e os da reserva, com uma economia duvidosa de 1 bilhão de reais por ano nos próximos 10 anos. A reforma no regime geral reduzirá gastos de 800 bilhões de reais no mesmo período. Parece que a prioridade de Bolsonaro é defender a corporação dos militares e policiais, a única que fez nos seus 28 anos de atuação na Câmara dos Deputados.

O orçamento federal previsto para 2021, que, obrigatoriamente, será enviada ao Congresso até 31 de agosto de 2020, demonstra que a Defesa será o segundo maior orçamento, com 109,9 bilhões de reais, enquanto a Educação tem uma dotação orçamentária 101,9 bilhões. Além disso, os militares solicitaram mais dois bilhões. A Educação e a Saúde terão cortes de – 13,1% e -4,8%, respectivamente. Na Educação, as verbas destinadas as universidades federais e Institutos Federais serão reduzidas, pasmem, a pedido do próprio Ministério da Educação para serem destinadas ao ministério da Defesa, para dobrar, para 108 milhões de reais, o programa com escolas comandadas por militares.

Por que o governo propõe um orçamento maior para a Defesa do que para a Educação? Não estamos em guerra ou existe qualquer possibilidade para isso acontecer. Em 2018, o orçamento para a Defesa totalizou 77 bilhões de reais. Em 2019, o orçamento passou para 85 bilhões de reais. É importante ressaltar que destes valores, 92% são gastos com folha salarial para os militares da ativa e os da reserva. Dá a impressão que o objetivo é aumentar os “soldos” militares.

É natural que ninguém desmerece ou desrespeita as Forças Militares do Brasil, mas também é importante compreender que eles são funcionários públicos e também precisam fazer sacrifícios como outros funcionários públicos civis. O governo aprovou na última semana o congelamento dos salários públicos federais, estaduais e municipais até dezembro de 2021. Por que só os civis?

Quando entrei na universidade em 1974, vivia e era entusiasta da época do Milagre Econômico, onde as Forças Armadas recebiam 44% do orçamento federal e o Ministério da Educação apenas 10%. Na época a economia brasileira crescia 11% ao ano, enquanto a média mundial era de 8%. Mas devemos recordar que nosso crescimento foi através de dívida externa, sem qualquer preocupação com a pobreza ou desigualdade social que, por fim, afundaria o Brasil por 20 anos.

A dívida externa começou a crescer 20% ao ano desde 1964. O país, na época, tinha uma dívida de US$ 3 bilhões e ao entregarem o poder aos civis, deixaram uma dívida de US$ 100 bilhões. É importante citar que, em 1964, a dívida comprometia dois anos de exportações e em 1985, quatro anos. O governo militar pegava novas dívidas para pagar os juros dos empréstimos anteriores, até que Paul Volcker, diretor do FED decidiu acabar com a inflação norte-americana e aumentou muito os juros, fazendo a Selic deles subir para 20%. O Brasil, sem crédito e sem recursos para pagar os juros das dívidas, vieram o calote da dívida e a hiperinflação e o governo da época culpou a crise externa e o FMI pela derrocada.